Consumidor Offline: Mudanças de comportamento de consumo e redes sociais.
Como o comportamento do consumidor off line e low profile possuem potencial suficiente para novos nichos de mercado, foco das novas estratégias de mercado.
Adailton Mendes Galvão
8/12/20253 min read
As redes sociais têm desempenhado um papel cada vez mais relevante na formação do comportamento humano e influenciam diretamente os hábitos de consumo de milhões de pessoas ao redor do mundo. Com sua constante evolução, surgem novos perfis de usuários diariamente — desde consumidores comuns que compartilham suas experiências com produtos até influenciadores que se transformaram em verdadeiras celebridades digitais. Esses novos atores sociais exercem forte influência sobre os comportamentos e decisões de compra, moldando uma nova lógica de consumo baseada na confiança, na recomendação e na identificação emocional.
À medida que a tecnologia avança, com smartphones cada vez mais potentes e integrados, esses dispositivos tornam-se verdadeiros hubs de conexão, concentrando em um único local comunicação, acesso a bancos, compras, entretenimento, saúde e bem-estar. Nesse cenário, o consumo se digitaliza de maneira quase imperceptível. Passamos a comprar, avaliar e desejar produtos e serviços de forma tão automatizada que mal lembramos como era nossa jornada de consumo antes da era digital.
Além do impacto econômico e comercial, as redes sociais provocam mudanças profundas nos aspectos psicológicos e sociais. O excesso de exposição, a supervalorização da imagem e a constante comparação entre pares têm gerado um fenômeno recente e crescente: o dos chamados “low profiles” — usuários que preferem uma postura mais discreta, com baixa ou nenhuma exposição nas redes sociais. Esse comportamento se tornou especialmente comum entre os jovens, que agora buscam construir uma presença digital restrita, voltada apenas a círculos íntimos e seletos.
Esse fenômeno pode ser interpretado como uma reação natural a um ambiente virtual saturado de informações, cobranças e estímulos. Muitos desses usuários estão optando por viver experiências fora das redes, numa tentativa de preservar sua saúde mental, sua privacidade e suas conexões reais. Trata-se de uma tendência que desafia o modelo tradicional das redes sociais, que sempre incentivaram o engajamento massivo, a viralização e a constante atualização de conteúdos.
O esgotamento digital, já discutido em diversos estudos e publicações acadêmicas, se manifesta como uma espécie de "fadiga do social", levando as pessoas a reduzirem sua presença online ou, em alguns casos, a abandonarem completamente determinadas plataformas. Esse comportamento abre espaço para novas oportunidades e exige uma resposta estratégica por parte das empresas e dos profissionais de marketing.
Nesse novo cenário, surge um desafio interessante: como comunicar com eficácia com consumidores que não querem ser vistos? Como criar estratégias de marketing que respeitem a privacidade, a discrição e o tempo desses novos perfis de consumidores?
Empresas mais atentas já têm percebido essa mudança. O WhatsApp, por exemplo, anunciou recentemente uma nova política de publicidade, incorporando anúncios sutis ao seu ambiente de mensagens privadas — uma tentativa de atingir inclusive esses usuários menos engajados em redes tradicionais. A ideia é investir em canais de comunicação mais reservados, personalizados e éticos, respeitando o espaço do consumidor.
Esse reposicionamento estratégico exige um retorno às bases do marketing, como ensinado por Kotler e Keller: compreender profundamente o consumidor, mapear suas jornadas, estudar suas motivações e adaptar-se às suas necessidades reais. O marketing digital, portanto, não pode mais ser apenas quantitativo; ele precisa ser qualitativo, humanizado e centrado na confiança.
Consumidores low profile representam um nicho altamente estratégico. Embora silenciosos, são economicamente ativos e exercem influência significativa dentro de seus grupos restritos. Investir nesse público é reconhecer a diversidade dos perfis contemporâneos e abraçar uma nova lógica de relacionamento: menos invasiva, mais empática e, acima de tudo, mais sustentável.
Assim, as empresas que entenderem essas mudanças de comportamento e souberem oferecer conteúdo relevante, experiências personalizadas e canais de comunicação seguros e respeitosos, sairão na frente em um mercado cada vez mais fragmentado e exigente. O futuro do consumo está menos na exposição e mais na conexão verdadeira — mesmo que silenciosa.